O que são os 'kids pretos' citados por Moraes? Membros das Forças Especiais teriam planejado matar Lula, Alckmin e Moraes em 2022
09/09/2025
(Foto: Reprodução) "Kid preto” é um apelido informal dos militares de Operações Especiais do Exército Brasileiro, pelo fato de usarem um gorro preto.
Divulgação/Exército
Os "kids pretos" — também chamados de "forças especiais" (FE) — são militares da ativa ou da reserva do Exército, especialistas em operações especiais. Ao g1, em 2023, o Exército confirmou a existência das tropas e disse que elas operam desde 1957.
Um dos membros do grupo era o general Mário Fernandes, preso desde 2024 (entenda abaixo). Ele é réu pela trama golpista, mas não faz parte do núcleo 1 – que a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal está julgando.
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No voto desta terça, o relator do inquérito do golpe, ministro Alexandre de Moraes, afirmou que foi Mário Fernandes quem imprimiu uma cópia do chamado "Plano Punhal Verde e Amarelo" antes de uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro, após as eleições de 2022.
🔎 O "Punhal Verde e Amarelo" previa o assassinato do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice Geraldo Alckmin e do próprio ministro Moraes. Segundo a denúncia da PGR, esse plano foi elaborado pelos "kids pretos" para impedir a posse dos eleitos e manter Bolsonaro no poder.
"Não é crível, não é razoável achar que Mário Fernandes imprimiu no Palácio do Planalto, se dirigiu ao Palácio da Alvorada, onde estava o presidente, ficou uma hora e seis minutos e fez barquinho de papel com a impressão do Punhal Verde e Amarelo. Isso é ridicularizar a inteligência do tribunal", ironizou Moraes.
Segundo o Exército, até 2023, os "kids pretos" tinham um efetivo aproximado em torno de 2,5 mil militares.
Grupo preso em 2024
Em novembro de 2024, a Polícia Federal prendeu quatro militares do Exército integrantes dos "kids pretos", suspeitos de um golpe de Estado após as eleições de 2022 para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e restringir a atuação do Poder Judiciário. Foram presos:
general de brigada Mario Fernandes (na reserva);
tenente-coronel Helio Ferreira Lima;
tenente-coronel Rodrigo Bezerra Azevedo;
major Rafael Martins de Oliveira.
Foi preso também o policial federal Wladimir Soares, que não integra o grupo.
Segundo a Polícia Federal, entre as ações elaboradas pelo grupo havia um "detalhado planejamento operacional, denominado 'Punhal Verde e Amarelho', que seria executado no dia 15 de dezembro de 2022" para matar os já eleitos presidente Lula e vice-presidente Geraldo Alckmin.
"Ainda estavam nos planos a prisão e execução de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que vinha sendo monitorado continuamente, caso o Golpe de Estado fosse consumado", diz a PF.
Como é o treinamento dos 'kids pretos'?
De acordo com o Exército, a nomenclatura "kid preto" é um apelido informal atribuído aos militares de Operações Especiais do Exército Brasileiro, pelo fato de usarem um gorro preto. O processo seletivo para as Forças de Operações Especiais é realizado entre militares voluntários que realizam curso de Ações de Comandos e de Forças Especiais, segundo o Exército.
Os "kids pretos" passam por formação no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Niterói (RJ), no Comando de Operações Especiais em Goiânia (GO), ou na 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus (AM).
Como parte do treinamento, os militares aprendem a atuar em missões com alto grau de risco e sigilo, como em operações de guerra irregular — terrorismo, guerrilha, insurreição, movimentos de resistência, insurgência. Além disso, são preparados para situações que envolvam sabotagem, operações de inteligência, planejamento de fugas e evasões.
Na página oficial do Facebook do Comando de Operações Especiais, em Goiânia, um vídeo de comemoração dos 65 anos das operações especiais é iniciado com a frase:
"O ideal como motivação. A abnegação como rotina. O perigo como irmão. A morte como companheira", diz o vídeo.
De acordo com o Exército, os "kids pretos" podem atuar em todo o território nacional. No entanto, a corporação afirma que as tropas especiais só são empregadas por ordem do Comando do Exército, sob coordenação do Comando de Operações Especiais.
"Sempre com base em um arcabouço legal, respeitando regras de engajamento previstas para a sua atuação operacional”, diz o Exército em nota enviada ao g1.
'Kids pretos' e o 8 de janeiro
Veja ação no 08/01 que PF suspeita ter sido orientada por 'kids pretos' do Exército
Segundo a revista Piauí, em 4 anos de governo Bolsonaro, pelo menos 26 "kids pretos" ocuparam cargos na gestão. Entre eles, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, e o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes.
Imagens dos atos terroristas em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023, mostram o momento em que golpistas invadiram e vandalizaram o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto.
Nos vídeos é possível ver que homens com o rosto coberto por balaclavas e usando luvas retiraram as grades da escotilha do Congresso Nacional. Em um outro momento, eles usaram gradis para ajudar os invasores a sair de dentro do prédio – além de uma mangueira para jogar água e dispersar o gás das bombas de efeito moral (veja vídeo acima).
De acordo com a apuração da reportagem, no inquérito da Polícia Federal existem vários depoimentos de vândalos presos relatando a ação de indivíduos de balaclavas e luvas ajudando e incentivando os demais a entrarem no prédio.
Segundo os depoimentos, eles chamaram os invasores depois de abrirem as escotilhas de acesso ao teto do Congresso Nacional. A subida até lá só teria sido possível por causa de uma escada feita com gradis amarrados.
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