Crime da 113 Sul: 'Eu era do Orkut, do MSN, sei nem mexer no celular', diz Francisco Mairlon, inocentado após 15 anos preso
15/10/2025
(Foto: Reprodução) Francisco Mairlon deixa a Papuda após 15 anos
Inocentado após 15 anos preso, Francisco Mairlon Barros Aguiar afirmou que ainda está "sem acreditar" na sua liberdade. "Tá sendo tudo novo para mim. Eu era do Orkut, MSN. Sei nem mexer no celular", declarou durante coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (15).
Mairlon foi solto por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que em decisão unânime anulou sua condenação e trancou o processo que o apontava como um dos executores do triplo homicídio da 113 Sul, em Brasília.
Detido em 2010 aos 22 anos de idade, ele volta a ser um homem livre aos 37.
"Desde o momento da porta do presídio até aqui, está sendo um momento de felicidade imensa. Vendo minha família e amigos em peso... Está sendo um sonho. Parece que eu ainda estou no sistema penitenciário", disse Mairlon.
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Ao conversar com jornalistas na casa dos pais, no Novo Gama, no entorno do Distrito Federal, o ex-réu declarou que teve os planos interrompidos pela prisão em 2010.
"Eu estava fazendo muitos planos com meu filho e me envolveram nesse caso. Eu trabalhava com meu pai e tinha o meu próprio negócio. Eu tinha uma vida estável que vocês não conhecem. Eu me inspirava no meu pai, comerciante, queria ser melhor que ele. Mas interromperam meus sonhos", afirma.
🔎 O crime: em 2009, o ex-ministro do TSE José Guilherme Villela, sua esposa, Maria Carvalho, e a empregada da família, Francisca Nascimento, foram brutalmente assassinados a facadas no apartamento da família, em uma quadra nobre de Brasília.
🔎 Caso chocou o país: Adriana Villela, filha do casal, é acusada de ser a mandante, mas sua condenação foi anulada pelo STJ em setembro. Outros dois condenados pela execução do crime estão presos desde novembro de 2010.
🔎 O triplo homicídio, ainda vivo na memória dos moradores da capital federal, ganhou série documental no Globoplay.
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Mairlon contou também que buscou cuidar da saúde mental e física para suportar o tempo na prisão.
"Nesses três últimos anos da minha vida tratei muito da minha mente e [e de mim] fisicamente para não me abalar com o cotidiano do sistema penitenciário. Não é fácil um cidadão comum ser jogado no sistema penitenciário do jeito que fui, largado. Se a gente for agir do jeito que age lá dentro, poderia passar por várias situações difíceis", contou na entrevista.
Solto após 15 anos
Mairlon foi solto às 0h20 desta quarta (15). Ele deixou o Complexo Penitenciário da Papuda abraçando a família e escoltado pelos advogados.
Ao deixar o complexo penitenciário, o primeiro lugar que Mairlon quis visitar foi uma igreja localizada no Pedregal, onde ele vivia antes de ser preso.
Na primeira declaração após deixar o presídio, em entrevista à TV Globo, ele disse estar muito grato à família, aos advogados e aos ministros do STJ que definiram a soltura de forma unânime.
"Não estou nem acreditando, o dia mais feliz da minha vida está sendo hoje. Muita gratidão a todas as pessoas que não desistiram de mim, à ONG Innocence que insistiu ainda. Família, amigos, não sei nem o que falar."
"É um momento de êxtase que ninguém pode imaginar. Fora os obstáculos, as adversidades que eu tive que passar aqui dentro, ser bastante resiliente com as coisas que aconteceram."
Na decisão desta terça (14), os ministros do STJ determinaram a "soltura imediata" do ex-réu, agora inocentado.
"Eu já queria ir logo ver meus pais. Meu pai tá com diabete, tá no tempo de aproveitar a vida dele. Meu objetivo era não ter dado nenhuma entrevista e ir direto ver meus pais. E depois, no Ceará, para ver meu filho. Estou ansioso demais para ver meu filho, meus primos... muita gente", diz Mairlon.
"Meu sonho foi realizado, de estar aqui solto, livre e sem pressão nenhuma dialogando com vocês. Sou mais um sobrevivente do sistema, tem muito mais pessoas sofrendo", afirma Mairlon.
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Decisão do STJ
Na decisão do STJ, os ministros também trancaram a ação penal e anularam o processo desde o início. Ou seja: Francisco Mairlon, agora, não é nem condenado nem réu pelo crime.
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A decisão foi tomada com base em um pedido da ONG Innocence Project — organização internacional que busca reparar erros judiciais —, que assumiu a defesa de Mairlon.
Segundo a defesa, os depoimentos que incluíram Francisco Mairlon na cena do crime, dados pelo próprio Mairlon e pelo réu Paulo Cardoso Santana, foram colhidos mediante pressão e intimidação.
"Eu não sei o que vai se suceder. Vamos conversar ainda sobre se vai ter alguma reparação ou não. Mas nada, nenhuma reparação, dinheiro ou palavra que a justiça possa falar... Um pedido de perdão não vai reparar a dor e o sofrimento que eu passei, que vocês nem imaginam. É uma dor insuportável o que passei lá dentro. Perdi o crescimento do meu filho, minha sobrinha e prima que eu seria padrinho. Vou chegar com eles grandes, perdendo a infância e adolescência. A dor mais insuportável ainda é ver meu filho longe de mim e poderia ser diferente", afirma Mairlon.
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal tinha negado uma revisão do processo e, por isso, o caso passou à análise do STJ. O Ministério Público do DF pode recorrer da decisão.
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Crime da 113 Sul
O crime ocorreu em 28 de agosto de 2009, no sexto andar do bloco C da 113 Sul, quadra nobre de Brasília. No local, residiam José Guilherme Villela e sua esposa, Maria Villela.
No dia do crime, além do casal Villela, também foi morta a empregada doméstica da família, Francisca Nascimento da Silva, ela tinha 58 anos. Os três foram mortos a facadas. Dólares e joias foram levados.
A primeira suspeita da polícia é de que o crime se tratava de um latrocínio — tipificação do crime para roubo seguido de morte.
Três homens foram condenados pela execução do crime, e dois seguem presos desde novembro de 2010:
Leonardo Campos Alves: ex-porteiro do prédio onde o casal Villela morava. Em 2013, foi condenado pelo Tribunal do Júri a 60 anos de prisão;
Paulo Cardoso Santana, sobrinho de Leonardo: em 2016 foi condenado a 62 anos de prisão pelo júri; e
Francisco Mairlon Barros Aguiar: agora inocentado pelo STJ, foi condenado em 2013 a 55 anos de prisão, pena reduzida para 47 anos de prisão. Mairlon foi solto nesta quarta-feira (15).
Os executores, do crime, contudo, afirmam que as mortes foram realizadas após ordens de Adriana Villela, filha do casal.
O crime teria sido motivado por desavenças financeiras. As investigações mostram que houve troca de mensagens entre a Adriana e os pais, que reclamavam do “temperamento agressivo” da acusada e das cobranças por dinheiro.
Adriana Villela, denunciada pelo Ministério Público do DF como mandante da execução, chegou a ser presa duas vezes de forma preventiva. Ela foi liberada após sua condenação ser anulada pelo STJ. Ela nega as acusações e acusa o trio de latrocínio.
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