Banco Master: como ficam correntistas e investidores após a liquidação pelo BC?
Liquidação do Banco Master: como ficam os correntistas?
A decisão do Banco Central (BC) de colocar o Banco Master sob administração especial temporária e decretar sua liquidação extrajudicial despertou dúvidas entre correntistas e investidores, sobretudo entre aqueles que possuem CDBs emitidos pela instituição.
🔎 O Certificado de Depósito Bancário (CDB) é um investimento de renda fixa em que o investidor empresta dinheiro a um banco e recebe juros em troca. Essa remuneração pode ser pré-fixada (definida no momento da aplicação) ou pós-fixada (vinculada a um indicador, como o CDI).
A crise ganhou ainda mais destaque após a prisão de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, na segunda-feira (17). A Polícia Federal deteve o empresário no Aeroporto de Guarulhos, quando ele tentava fugir do país em um avião particular com destino a Malta, país na Europa.
A seguir, o g1 apresenta as principais dúvidas de correntistas e investidores do Banco Master.
Como funciona a liquidação de um banco?
O que é a proteção do FGC?
Quem não é protegido pelo FGC?
Quando o saldo ultrapassa R$ 250 mil
Como pedir o ressarcimento ao FGC
Quanto o FGC vai precisar aportar no caso do Banco Master?
Como ficam os pagamentos de quem tem dívida com o Banco Master?
As chaves PIX do Banco Master ainda vão funcionar?
Como funciona a liquidação de um banco?
A liquidação extrajudicial é um regime usado para encerrar as atividades de uma instituição financeira e retirá-la do Sistema Financeiro Nacional de forma organizada.
🔎 Esse mecanismo é acionado pelo BC quando há insolvência sem chance de recuperação ou quando ocorrem infrações graves às normas do setor, entre outras situações previstas em lei.
"Isso significa que o banco deixa imediatamente de operar e passa a ser retirado do sistema financeiro de maneira controlada e organizada", explica André Santa Cruz, doutor em Direito Comercial pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Segundo Santa Cruz, os efeitos são imediatos: o banco interrompe suas operações, todos os contratos em andamento passam a ser considerados vencidos e qualquer ação judicial contra a instituição fica suspensa durante o processo de liquidação.
Com a decretação da liquidação, o processo fica sob responsabilidade de uma empresa indicada pelo BC. O profissional designado — o liquidante — deve levantar os bens do banco e suas dívidas para, posteriormente, organizar o pagamento dos credores na ordem prevista em lei.
Com isso, o liquidante passa a identificar os ativos do Banco Master — como imóveis, recursos em caixa e carteiras de crédito.
Paralelamente, ele deve mapear as dívidas — que incluem obrigações trabalhistas, tributos e débitos com outras instituições.
Somente após essa fase é iniciada a venda dos bens para o pagamento dos credores.
Em processos de liquidação, trabalhadores e credores tributários — como a Receita Federal e as Secretarias de Fazenda — geralmente têm prioridade na ordem de pagamento.
"Caso haja capital para pagar todos os credores, o que provavelmente não deve ocorrer, isso será feito durante o trâmite da liquidação", explica Bruno Boris, sócio do Bruno Boris Advogados.
O que é a proteção do FGC?
Para correntistas — aqueles que mantêm recursos em conta corrente, poupança ou têm pagamentos pendentes — os saldos são protegidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por instituição.
No caso dos investidores, a cobertura varia conforme o tipo de aplicação. Estão dentro das regras do FGC:
CDB e Recibo de Depósito Bancário (RDB);
Letra de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letra de Crédito do Agronegócio (LCAs).
O FGC só atua em casos de intervenção ou liquidação de uma instituição financeira. A indenização considera o valor investido somado aos rendimentos acumulados até a data da liquidação, limitado ao teto de R$ 250 mil.
⚠️ EXEMPLO: Quem tinha R$ 200 mil investidos e R$ 70 mil para receber em rendimentos terá acesso a até R$ 250 mil. O valor que exceder esse limite deve ser solicitado no processo de liquidação conduzido pelo BC.
Quem não é protegido pelo FGC?
Não têm direito à cobertura do FGC os investidores que aplicaram em produtos sem garantia do fundo, como:
Debêntures;
Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs),;
Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs);
Fundos de investimento;
Títulos emitidos fora do sistema de proteção.
Nesses casos, não há indenização automática: todo o valor investido entra integralmente na fila da liquidação e só poderá ser recuperado se houver recursos suficientes após o pagamento das obrigações prioritárias.
Segundo o advogado Eduardo Brasil, sócio do Fonseca Brasil Serrão Advogados, o tratamento é diferente para os investidores que possuem aplicações não cobertas pelo FGC.
“Esses recursos passam a integrar a massa de credores da liquidação, e a recuperação dependerá da venda de ativos e da capacidade financeira do banco ao longo do processo. O resultado pode ser pagamento integral, parcial ou até inexistente, dependendo do patrimônio disponível.”
Quando o saldo ultrapassa R$ 250 mil
Quem possui valores acima do limite coberto pelo FGC precisa se habilitar como credor na liquidação. Para isso, é necessário acompanhar o site da empresa liquidante, onde serão publicadas as orientações e a lista de documentos exigidos.
🔎 O BC recomenda que o credor busque orientação jurídica para entender os prazos, organizar a documentação e garantir que todos os direitos sejam respeitados ao longo do processo.
Para saldos em conta corrente e poupança, vale a mesma regra aplicada aos investimentos cobertos: o FGC garante até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ por instituição.
O valor que excede esse limite não é coberto e entra na fila da liquidação — tanto no caso de depósitos quanto de aplicações protegidas, como CDBs, RDBs e LCIs/LCAs.
⚠️ EXEMPLO: Um correntista com R$ 300 mil na poupança pode receber até R$ 250 mil pelo FGC. Os R$ 50 mil restantes entram no processo de liquidação e só serão pagos se houver recursos após o atendimento das prioridades legais, como dívidas trabalhistas e tributos.
Como pedir o ressarcimento ao FGC
Embora exista a garantia, o pagamento do FGC não é imediato.
O processo tem início quando o liquidante envia ao fundo a lista completa de credores do banco — etapa que, em liquidações recentes, levou cerca de 30 dias. Com a lista consolidada, o FGC libera o acesso aos valores cobertos.
"Todos os créditos enquadrados em nosso regulamento terão o processo de pagamento iniciado tão logo o levantamento dos dados dos credores seja concluído e disponibilizado ao FGC", diz o fundo em nota sobre a situação do Banco Master.
Para solicitar o ressarcimento:
Pessoas físicas: devem usar o aplicativo do FGC. Após realizar um cadastro básico, é necessário solicitar o pagamento da garantia;
Pessoas jurídicas: devem fazer o pedido diretamente pelo site da instituição.
Após a assinatura do termo de solicitação, o FGC informa que a liberação costuma ocorrer em até 48 horas úteis, desde que os dados estejam corretos.
Ainda assim, o período entre a decretação da liquidação e o pagamento aos investidores variou entre 14 e 40 dias nas operações mais recentes.
Para eventuais dúvidas, o FGC orienta que correntistas e investidores entrem em contato pelo e-mail atendimento.credores@fgc.org.br.
Quanto o FGC vai precisar aportar no caso do Banco Master?
O valor que o FGC precisará aportar no caso do Banco Master ainda não está claro. A estimativa só será possível após o liquidante nomeado pelo BC — a EFB Regimes Especiais de Empresas — enviar a lista completa de credores da instituição.
Esse levantamento costuma levar alguns dias e, em alguns casos, pode se estender por semanas até que todas as informações estejam consolidadas.
O dinheiro do FGC vem das próprias instituições financeiras. Todos os meses, bancos e demais instituições contribuem para manter o fundo.
Como ficam os pagamentos de quem tem dívida com o Banco Master?
Mesmo com a liquidação, quem possui empréstimos — incluindo crédito consignado — continua obrigado a pagar as parcelas normalmente. A liquidação não cancela contratos já assinados.
O liquidante assume a administração desses contratos e deverá informar como os pagamentos serão feitos daqui para frente, incluindo emissão de boletos, canais de atendimento e possíveis mudanças nos procedimentos.
Enquanto as orientações oficiais não forem divulgadas, o consumidor deve:
Manter os comprovantes de pagamentos anteriores;
Evitar atrasos;
Não pagar boletos enviados por terceiros até que haja comunicado oficial do liquidante.
As chaves PIX do Banco Master ainda vão funcionar?
Não. As chaves PIX registradas no Banco Master deixam de valer imediatamente, pois a instituição é retirada dos sistemas de pagamento ao entrar em liquidação.
Segundo a advogada Daniela Poli Vlavianos, do escritório Arman Advocacia, para continuar usando o PIX, o cliente precisa registrar uma nova chave em outro banco ou fintech de sua titularidade.
"Assim que a chave deixa de ser ativa quando a instituição é retirada do sistema, ela é liberada para novo registro pelo titular em outro banco ou fintech."
Banco Master irá dividir suas operações de atacado e varejo
Crédito: DivulgaçãoFONTE: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/11/18/liquidacao-do-banco-master-como-ficam-correntistas-e-investidores.ghtml