Adolescente que morreu por supostas complicações causadas por vape usava dispositivo há 3 meses
30/05/2025
(Foto: Reprodução) Estudante de 15 anos foi tratada em diferentes hospitais com suspeita de pneumonia. Após piora, ela contou sobre uso de cigarro eletrônico. Maria Enedina Scuarcialupi, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
A adolescente de 15 anos que morreu na quarta-feira (28), em Brasília, por supostas complicações causadas pelo vape, usava o dispositivo há pelo menos 3 meses, segundo os médicos que atenderam a estudante.
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Enfrentando tosse persistente, ela passou por tratamento em diferentes hospitais do Distrito Federal. Os médicos suspeitavam que ela estivesse com pneumonia.
Segundo a médica Maria Enedina Scuarcialupi, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), quando a adolescente teve uma piora, e passou por uma nova entrevista, ela contou sobre o uso do vape. Foi quando as equipes de saúde descartaram a pneumonia (veja entrevista acima).
A suspeita é que a morte tenha ocorrido por lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico, conhecida como "EVALI" — sigla em inglês para e-cigarette or vaping use-associated lung injury. A família da jovem disse que não sabia sobre o uso do vape.
A estudante morava em Ceilândia, no Distrito Federal, com os pais. Segundo os médicos, a jovem perdeu o pulmão esquerdo.
Saga por hospitais
Pessoa fumando vape
Diego Fedele/AAP Image via AP
Médicos ouvidos pela reportagem contaram que a adolescente estava há meses com uma tosse persistente. A família procurou atendimento em vários hospitais, até que a menina foi internada no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB).
Em 18 de maio, a adolescente foi transferida da UTI do HMIB para a enfermaria do Hospital Cidade do Sol (HSol), em Ceilândia.
A paciente foi tratada com antibióticos, corticosteroides e suporte clínico. Segundo o IgesDF, a estudante apresentou melhora com fisioterapia para recuperar a função pulmonar.
Dois dias depois, a menina voltou a ter febre e o tratamento precisou ser ajustado.
Em razão da "necessecidade de continuidade do cuidado especializado", a adolescente foi transfrida pra o Hospital Universitário de Brasília (HUB), na terça-feira (27).
O HUB informou que a paciente ficou sob os cuidados da equipe de pneumologia.
Como o quadro de saúde se agravou, na quarta-feira (28) "houve necessidade de cuidados em unidade de terapia intensiva (UTI)", mas o hospital estava com lotação máxima.
Na quarta (28), a jovem então foi transferida para a UTI do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN).
O g1 apurou que ainda na ambulância ela sofreu uma parada cardíaca. A equipe do HRAN tentou reanimá-la, mas não teve sucesso.
A Secretaria de Saúde (SES-DF) não deu informações sobre o caso, em função da legislação que impõe sigilo sobre o prontuário de pacientes atendidos na rede pública.
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O uso de dispositivos eletrônicos para fumar, como o vape, é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009.
Apesar disso, a comercialização desses produtos ocorre de forma clandestina em várias regiões do país, como no DF.
"O vape tem várias substâncias químicas. Independente da marca, ele tem vitamina E. [...] Se for para inalação, ela se transforma como se fosse cristais e provoca lesões nos alvéolos, que inflamam e viram fibrose, como se fosse cicatriz. [...] O tecido perde a funcionalidade, não funciona mais para entrar o oxigênio e sair o gás carbônico. Ele não faz mais a respiração", diz a médica Maria Enedina Scuarcialupi.
A médica explica que a EVALI é uma doença nova e teve o CID (Classificação Internacional de Doenças) registrado recentemente.
"Nem todos os médicos estão habituados. Às vezes, o médico nem lembra de perguntar se o adolescente usa vape. [...] Muitos jovens já devem ter morrido com diagnóstico de insuficiência respiratória aguda por influenza, Covid, por infecção, porque simula o quadro de infecção", afirma.
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